sábado, 28 de novembro de 2009

Flores, Komodo, Rinca e a terrível despedida

Flores, 13th -19th of September

Já não bastava termos chegado a meio da noite a Labuanbajo, para ajudar à festa, não havia uma única hostal aberta. Depois de uma busca infrutífera pela zona do porto, avançamos mais para o interior numa escuridão absoluta à procura de abrigo. Finalmente lá encontramos qualquer coisa.
Labuambajo,“terriola” mais a Oeste da ilha das Flores, não é mais que um pequeno porto de mar, integralmente de ruas de terra, praticamente sem apelo nenhum com a excepção de uns pequenos cafés geridos por estrangeiros e um centro de mergulho. A cidade vive do pouco turismo existente como ponto de saída para o Komodo National Park, que engloba as ilhas de Komodo e Rinca, bem como outras pequenas ilhas desabitadas e todo o mar em redor delas. Um dos nossos objectivos era precisamente visitar este Parque Natural e, obviamente, ver de perto os famosos Dragões de Komodo. Logo nos explicaram que embora se chamem Dragões de Komodo, a maior densidade populacional encontra-se, não na ilha de Komodo, como seria de esperar, mas sim em Rinca. Assim, decidimos partir imediatamente para Rinca onde pudemos constatar, em primeira mão e a escassos metros de distancia, o tamanho destes animais. A proximidade assusta, mas segundo o ranger do parque, é necessário que um dragão esteja muito esfomeado para tentar atacar uma pessoa, e que de qualquer forma, dificilmente conseguiriam acompanhar a velocidade de corrida de um humano por muito tempo, o que me deixou muito mais tranquilo. Depois de uma caminhada de 5h pela ilha, lá regressámos ao barco, com dois amigos franceses que tínhamos conhecido numa viagem de ferry uns dias antes, e fomos para “barreira de coral” indonésia ao largo das ilhotas do Parque Nacional. Aí, fizemos snorkeling durante o resto do dia antes de regressar a Flores.
Flores, além do nome da ilha, do nome das pessoas, da forte influência cristã, e de algumas palavras arcaicas, não reteve muita mais influência portuguesa depois da nossa passagem por lá de 1512 até 1850. Largamente estudada por paleontólogos devido a uma teoria evolucionista de um povo de reduzidas dimensões que se separou do caminho evolutivo normal dos humanos e catalogado como Homo Floresinsis, é, acima de tudo, um lugar paradisíaco onde a selva luxuosa e densa salpicada de vulcões activos e bananeiras inclinadas sobre a estrada tortuosa de montanha (a famosa Flores Highway), dá também lugar a praias de areia branca como cal, ou profundamente preta com coral e peixes tropicais que subsistem em águas muito mais quentes que o normal e onde a vida tem um ritmo diferente e muito próprio. Apesar das praias, dos dragões e da activa vida marinha, a maior atracção da ilha é um vulcão, ou antes, o que sobra dele. O Monte Sagrado Kelimuto. Ver o nascer do sol no topo destes 3 lagos de cratera é imperdivel numa passagem por Flores. Caminhar ao longo do cume dos dois principais lagos é, ao mesmo tempo, perigoso, assustador, mas também proporciona uma paisagem indiscritivelmente “Zen” dado o seu isolamento e beleza. No final, antes da travessia para a ilha de Timor, houve ainda tempo para uma despedida das praias indonésias, perto da cidade de Maumere, onde ver o nascer do sol no mar, junto dos pescadores locais enquanto saem para a faina é como retroceder uns séculos e ver a vida com outros olhos. Ao longo de toda a viagem, de uma ponta à outra da ilha, há um factor constante que torna a experiência ainda mais inesquecível: as pessoas. Toda a gente, desde o mais pequeno puto ranhoso até ao mais velho ancião, é incrivelmente simpática e acolhedora. É como se não quisessem, verdadeiramente, que fossemos embora. Que nos abraçam e falam connosco e convidam-nos a jantar ou almoçar e nos dão as receitas em seguida se lhes pedimos. São genuinamente felizes, sem qualquer máscara ou obscura segunda intenção, especialmente as crianças, que, obviamente idolatram o Cristiano Ronaldo e outros ícones europeus, que memorizam o nosso nome à primeira e o pronunciam perfeitamente na hora da despedida, que fazem tudo para ter a nossa atenção, que adoram as máquinas fotográficas, não para “sacar dinheiro ao turista” à posteriori, mas sim para se poderem ver a eles próprios no ecrã e rirem-se da cara uns dos outros. Isto é Flores. Isto é um pouco da Indonésia em geral. Um povo e um destino que nos surpreendeu e que vai ficar sempre na nossa memória.

Como a selecção de 3 ou 4 fotografias era muito complicado e injusto para com as belezas da ilha, aqui vai um pequeno fotoblog comentado.


A caminho dos dragões.

A primeira recepção oficial é dada em primeiro lugar pelos macacos, e só depois pelos rangers do parque.




Os famosos devoradores de búfalos. Animais simpáticos, cuja saliva é tão tóxica que, em caso de um ataque (em que a pessoa continue a respirar depois do mesmo) é necessário leva-la a um hospital em menos de 6h ou não haverá nada a fazer!




As águas cristalinas e "quentes como sopa" do mar que rodeia as ilhotas do parque natural. Uma das ilhotas, segundo nos foi dita, era privada, bem como toda a extensão de água que a rodeava, na qual se podia encontrar uma quantidade enorme de coral e biodiversidade marinha. Segundo diziam as más línguas era de "uns ingleses" teria custado 7'0 milhões de euros...!









A viagem ao longo da ilha é tão rica do ponto de vista de paisagem que às vezes, passados 100km, parece que se está a olhar exactamente para o mesmo vulcão.



E que dizer dos Bemos, transporte local que se assemelha permanentemente a uma árvore de natal enfeitada carregada de locais que transportam literalmente a sua própria vida atrás de si para todo lado? As imagens falam por si...



E as pessoas, as crianças especialmente, ficam marcadas na memória. Todos os putos têm o sonho de vir a ser um grande jogador de futebol, embora no fundo no fundo saibam que isso não vai acontecer. Mas não deixam de ser incrivelmente felizes e viver a vida com o entusiasmo que já é muito raro encontrar hoje em dia nas civilizações ditas "evoluídas".




A Pata, qual Moisés com o seu rebanho, reencontrou também ela a felicidade de outros tempos em que chegava a casa ao cair da noite, preta de toda a terra acumulada e com um sorriso de orelha a orelha.



No dia seguinte de manhã, as mesmas crianças imundas do dia anterior, são agora transformadas em limpos e fardados estudantes e vão, todos iguais e em fila indiana, saindo aos magotes de cada casa para ir para a escola da localidade (neste caso, Bajawa). Dentro de cada casa, a decoração sóbria e humilde sempre inclui uma cruz, uma pintura ou qualquer outra alusão à religião cristã.


O cenário natural não deixa de nos surpreender com quedas de água e hot springs por todo o lado.


A visita ao Monte Sagrado Kelimuto é surreal, bem como as oportunidades fotográficas, com as libertações permanentes de gazes semi-tóxicos e minerais que lhe dá as cores. A saída do hostel deve ser feita às 4:30 da manha e o único meio de transporte é de mota com um local a quem se contrata o serviço no dia anterior.



Um dos dois lagos principais tem permanentemente uma cor opaca azul turquesa, enquanto que o outro alterna entre verde escuro (cor frequente) e o vermelho vivo (raramente, quando um conjunto se alterações geológicas ocorrem). O Avelino (nome português como o de tantos outros habitantes na ilha), que podem ver na segunda foto, é um entreperneur que vende café directamente de uma chaleira no topo do mirador, às 5 da manhã.



Os campos de arroz de Moni não ficam nada a dever a tantos outros locais do sudoeste asiático, e o arroz vê-se espalhado pelas ruas, passeios e beiras de estrada como se o maior casamento do mundo por ali tivesse passado.









Uma viagem até ao extremo nordeste da ilha dá-nos a conhecer Maumere onde a água e o ar são puros e os seus pescadores de "casquinha"que saem para o mar mal a claridade aparece no horizonte.



Os troncos corroídos pelo mar, vento e chuva pregam-nos surpresas ao assemelharem-se a caras e animais. As árvores que crescem no meio do mar dão um ambiente ainda mais místico e etéreo.



Uma vez mais, e agora a centenas de kms de Bajawa ou Moni, fizemos amigos novamente. Provavelmente nunca nos lembraremos do nome deles como eles dos nossos, mas as imagens ficam para sempre gravadas na memória tal como as as fotografias...








Isto é a Indonésia que nos encantou. A felicidade contagiante lado a lado com o isolamento que permite a tranquilidade de espírito...




Até ao nosso regresso, amigos!

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