Ainda andava eu na escola e já ouvia dizer: "eiii obeláá, o Quim é um granda malucooo". Na altura isso nao me dizia nada, mas agora entendo tudo. Muito provavelmente, e como era tudo bons estudantes, estavam todos a referir-se não ao Quim Maluco, mas ao primeiro imperador chinês. Esse Sr., depois de unificar a China, subiu-se-lhe a mania das grandezas ao nariz qual Cristiano Ronaldo (pérola da Siberia, China, Vietnam, Tailandia e arredores, Embaixador e semi-Deus Português omnipresente em todo o sudoeste asiatico), e autoproclamou-se (!) Imperador, corria o formoso ano de AC 221. Esse mesmo Sr., aos 50 anos e às portas da morte, lembrou-se, e correctamente, que poderia correr algum risco na sua vida-apos-a-morte devido a todos os inimigos que foi acumulando na sua escalada ao poder e poderia eventualmente precisar de alguma protecção (sim, protecção depois de morto...). Assim sendo, ordenou à sua corte que, quando chegasse a sua hora, seriam enterrados com ele um exercito vivo (nao por muito tempo) que o acompanhasse ao outro mundo e lhe providenciasse protecção. Ora, se isto hoje em dia e mesmo com a quantidade de drogas alucinogenicas a venda por aí, já parece algo rebuscado, na altura foi mesmo o auge. Valeu para a historia a sanidade mental de um dos mais chegados conselheiros do Imperador que sugeriu que não fossem enterrados os soldados propriamente dito, mas sim replicas em tamanho real, feitas em terracotta (uma lama transformada em barro e cozida no forno). Apesar de alguma resistencia (uma vez que o Quim, e justificadamente, nao entendia como é que guerreiros inertes e inanimados o iriam proteger), o Imperador lá cedeu. Ainda assim, ele queria algo à sua imagem...Grandisoso! Segundo reza a historia chinesa, foram necessarios 700,000 homens (foi nesta altura que foi criada a expressao "trabalho para chines") para construir à mão o seu bundle pack "maosoleu+exercito". Curiosamente todos os registos perderam-se no tempo e durante mais de 2000 anos ninguem se lembrou de referir o facto. Em 1974 um pobre campones da provincia de Shaanxi, a cerca de 30km de Xi'an resolve abrir um poço no seu campo de cultivo e acidentalmente decapitou um dos soldados que se encontrava uma dezena de metros abaixo dele...esperemos que o facto nao tenha irritado o Quim.
O Pato esteve lá e testemunhou a loucura. É realmente algo digno de ser apreciado.
Outro facto curioso da questão, é que o próprio Quim aínda nao foi encontrado. A sua localizaçao provavel é conhecida, mas a dificuldade das escavações e a delicadeza necessaria (que tambem nao é o forte do povo chinês) impediram até hoje que algum tipo de prospecção fosse tentada. Foi nessa altura que o Pato se relembrou da sua veia de arqueologo e definiu um dos seus objectivos de vida: Encontrar o Quim (ou pelo menos ajudar)!
Posto isto, Xi'an nao é muito mais do que o exercito de Terracotta, apesar de ter mais alguns atractivos: as ruelas crivadas de comerciantes do alheio peritos em mercados negros, cinzentos e escuros em geral, as milhares (serão milhões?) de barraquinhas de comida de rua espalhadas por toda a parte, alguns dos melhores frutos secos que o Pato comeu desde que saiu de casa, bem como, provavelmente o establecimento da Häagen Dazs mais quitado (e caro!) de toda a asia (com o Strawberry-Cheesecake a valer 4eur/scoop...nem para ricos, quanto mais para os tesos da volta ao mundo).