quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A dura prova de Điện Biên Phủ

Sapa, Vietnam (->Điện Biên Phủ->Muang Khua) ->Oudômxai, Laos, 27th-29th of July, 2009


Prólogo
Há muitas historias sobre a celebre fronteira de Tay Trang mas tipicamente são rematadas ou precedidas com um: "Aiii..Uiii...não vão por aí...olha, uma vez......", tipicamente proferidas por pessoas que nunca a atravessaram mas conhecem alguem que tem um primo cujo amigo já atravessou e diz que disse ser o pior que se pode imaginar. ORA, tinhamos que experimentar. E porquê? Bem, 1º, estavamos em Sapa, no Vietnam e queriamos ir para Luang Prabang, no Laos, e, se olharem para qualquer mapa podem constatar que a passagem por Điện Biên Phủ é que fica "mais à mão". Em 2º lugar, porque conhecemos duas pessoas que já tinham por lá passado (pessoalmente!) e que nos disseram que o que se perde em conforto ganha-se em paisagem e emoção (ambas comprovadissimas à posteriori). Em 3º lugar, porque usando apenas ligaçoes de camionetas locais o preço da viagem ficava por menos de metade do que fazendo um novo detour por Hanoi (sim, tesice extrema num país onde tudo é barato...bem vindo ao espirito da volta ao mundo). E por fim em 4º lugar, porque uma viagem sem um pouco de aventura não traz historias que valham a pena serem contadas. Posto isto, compramos o primeiro bilhete (Sapa->Điện Biên Phủ) e partimos.

Sapa->Điện Biên Phủ
Saída a correr aínda de madrugada do nosso Hosteling International dado que a mini-van com aspecto extremamente duvidoso (daquelas de 12 lugares) se antecipou em 15minutos e estavam com muita pressa para sair. Instalamo-nos em dois lugares do banco corrido trazeiro ao lado de um Sr. com um aspecto bastante vivido. Não havia espaço para os pés uma vez que havia sacos de 50kg de arroz a preencher os poucos espaços da carrinha. Não era muito confortavel, mas pensamos: "deve ser uma curta ligação nesta lata velha até à camioneta que vai levar até à fronteira...". Estavamos completamente enganados. Aquela ERA a camioneta que nos ia transportar até à fronteira num percurso superior a 300 tortuosos kilometros. À parte dos 50% de percurso em terra batida, que deixa marcas memoraveis no traseiro de qualquer um, a 2ª maior recordação é a facilidade aparente com que os septuagenarios (e septuagenarias) locais trepam os bancos e os sacos empilhados dentro do veículo para chegarem ao seu lugar, tudo em andamento. Está comprovado que o consumo exagerado de arroz é o próprio elixir da juventude. A paisagem é, durante todo o percurso, recheada dos mais belos arrozais da região, rodeados por palmeiras e bananeiras com pequenas nuvens a pairarem nas suas copas. Vale mais esta viagem do ponto de vista paisagistico do que passar 3 semanas a conhecer a região envolvente de Sapa. As paragens obrigatorias para comer e "mudar a água às azeitonas" eram efectuadas em "restaurantes de beira de estrada" ou se preferirem, "tascas no meio do monte", como comprova a foto abaixo do restaurante e da sua cozinheira.


Ao fim de 9h de viagem lá chegamos a Điện Biên Phủ, a mítica cidade da historia Vietnamita onde os Viet Minh derrotaram os Franceses em 1954 e se proclamaram livres do dominio colonial Francês.

Para quem cá quiser vir sem o incomodo desta opção de transporte, pode tambem voar uma vez que tambem há um pequeno aeroporto nesta terra. Nós avistamo-lo à chegada. Pareceu-nos um pouco menos frenético do que o de Frankfurt ou o de Heathrow, dado a quantidade de gado que pastava impunemente na erva que se alastrava por toda a pista de aterragem.

Điện Biên Phủ -> Muang Khua -> Oudômxai
Mal chegamos a Dien Bien Phu, por volta das 5pm, pensamos: "vamos meter-nos já numa camioneta que atravesse a fronteira aínda hoje e ficamos já a dormir no Laos". Uma vez mais, este pensamento só mostra a nossa ingenuidade e falta de conhecimento de causa... Após questionarmos qual a próxima camioneta a sair para o Laos foi-nos dito que não havia nenhuma ligação no proprio dia mas apenas no dia seguinte às 5:30am. "Ahh..pois, estou a ver. Isso parece-me bastante cedo. E qual é a próxima a seguir a essa?". Acontece que a póxima era passado 2 dias e tambem às 5:30 da manha. Ficamos um pouco incredulos com aquela informação. Talvez fosse um problema linguistico. Ao fim de mais umas tentativas junto da estação de camionagem lá nos acreditamos e compramos o bilhete. "A fronteira é apenas a 40km de distancia de Dien Bien Phu, e depois deve ser um tirinho até Luang Prabang... vai ser canja." Crentes. As acomodações em Dien Bien Phu são exatamente aquilo que se espera delas: uma pocilga com um colchão no meio. Dadas as condições, o preço de 2eur/noite/pessoa pareceu-nos uma exorbitância.
No dia seguinte, às 5:25 da manha, olhavamos incrédulos para o nosso meio de transporte. Eles: "Têm moxilas? Com certeza, vai na parte de cima". Nós: "Na parte de cima? e a chuva?". Eles: "Nós pomos uns plasticos. Molhava-se mais se fossem cá dentro". Ficamos por ali e as malas subiram para o tejadilho. Aquela camioneta levava tudo o que se pode imaginar: camponeses com sacos de cereais, vendedoras com sacos de roupa para vender, trolhas com as respectivas pás e equipamento pesado de construção, e nós, com as nossas duas moxilas. Já tinhamos andado em autocarros bastante cheios, mas nada que se comparasse. Todo o espaço do autocarro estava literalmente ocupado ou com pessoas ou com sacos. Sacos enormes no chão. Sacos mais pequenos em cima dos grandes. Pessoas em cima dos sacos pequenos. Pessoas no colo umas das outras. Havia inclusivamente uma Sra. que ia praticamente no colo do motorista. Nós, com um espirito inabalavel encaixamo-nos entre o motorista e uma caixa de ferramentas, ao lado de um enorme saco de arroz sobre o qual se sentava uma manicure que passou meia viagem a dormir encostada aos meus joelhos. Espetacular.

A viagem até à fronteira foi agradavel e bastante rapida. Ainda nao eram 6:30 da manha já estavamos a carimbar passaportes e à espera tranquilamente que o oficial da alfandega verificasse as mercadorias do topo do veículo (como podem ver na foto abaixo).
Na seguinte, podem ver alguns dos nossos companheiros de viagem que trabalhavam no Laos na construção, e que se faziam acompanhar de um cachimbo artesanal de aço inox com meio metro de comprimento que não hesitavam acender a cada paragem. Está encontrado o motivo de tanta felicidade, mesmo para quem faz este percurso duas vezes por semana. Eles, bastante hospitaleiros, insistiram bastante para que nos sentassemos e fumasse-mos tambem o cachimbo da paz, mas nós, depois de mais um olhar cuidadoso para um cachimbo com o aspecto de um morteiro, educadamente recusamos.

Às 7 da manha estavamos no Laos. Agora eram apenas 60km até uma terriola chamada Muang Khua. Ora, 60km, a uma média de 30km/h (conservadora), "duas horitas e estamos lá!". Chegamos a Muang Khua às 2 da tarde...! O percurso de 60km é inteiramente feito por um caminho de lama pelo meio da selva. Os atolamentos na lama e a necessidade de transpor rios são uma constante. As, tambem constantes, ravinas verticais ao lado do autocarro só se transformam em verdadeiramente aterradoras quando vemos o resultado de um deslizamento de terras lá no fundo que arrastou consigo uma parte significativa de selva. Se nos conseguirmos abstrair disso, a paisagem é única, como nenhum sitio onde eu tenha estado antes, no meio da floresta tropical virgem. A melhor forma de nos abstrairmos é confiar nos locais. Nenhum deles aparentava a minima inquietação. Alguns dormiam copiosamente, como eu nunca tinha visto dormir: literalmente aos saltos e com a cabeça a bater com semelhante violência nos vidros que ecoava em todo o autocarro. Nem isso os acordava. Não sei o que é que eles tanto fumam daquele cachimbo para aguentar este tratamento de beleza semanal, mas deve ser uma bombinha caseira. Se soubesse na fronteira o que me esperava talvez tivesse repensado a oferta do cachimbo.
Vamos a fotos para ver se consigo ilustrar 10% do que estou a tentar descrever.






Note-se que na foto anterior todos os passageiros sairam da carrinha e atravessaram o rio pela ponte de bambu. Enquanto isso, o motorista e o seu ajudante montaram pacientemente um snorkle no tubo de escape e atravessaram tranquilamente o rio com água pelos tornozelos. Daí eles dizerem que as malas em cima se molhavam menos.



Finalmente, por volta das 2 da tarde, e após 7h de uma massagem Vietcong, chegamos a Muang Khua. Excepto o facto de estarmos do lado oposto do rio e sem ponte. E não era propriamente um rio calminho e estreito. Era daqueles castanho-escuros largos, ao estilo do amazonas, com uma corrente tão forte em que não me surpreenderia ver um tronco arrancado da margem a aparecer do nada. Não há problema. Há sempre um pescador/agricultor/operador-de-ferry-em-part-time que disponibiliza travessias no seu barco/canoa com meio metro de largura, com um motor honda de 8cv, fabricado em 1932, pela módica quantia de 2000 kips (ora, 8 cêntimos).


Atravessado o rio temos novamente que pagar, desta vez por um tuk-tuk que nos leve até ao local de onde partem as camionetas em direcção a Oudômxai. Depois foi só esperar, comer (por sinal, descobrimos logo aí que o melhor ananás do mundo é, muito provavelmente, o do Laos, e custou 4 cêntimos...cada ananás...descascado e arranjado), e ficar maravilhado com o autocarro que nos esperava. Era o luxo em pessoa. Era "dos grandes"! Tinha assentos! Um para cada pessoa! Com excepção claro daqueles que, por força de se terem atrasado, teriam que ir sentados em 3ª classe, em cima dos sacos que ocupavam o corredor.


A viagem lá continuou paulatinamente até Oudômxai, sem grandes sobresaltos, com a excepção de que metade das pessoas lá dentro (incluindo as duas Sras. à nossa frente) vomitaram frequente e compulsivamente pela janela deixando um rasto de comida que se espalhava por 3 vidros e apanhava por vezes de surpresa os mais incautos que iam de cabeça de fora. O motivo era óbvio. A estrada de montanha até Oudômxai faz a nossa velhinha estrada nacional 230 que atravessa o Caramulo parecer uma autoestrada. A recompensa disto tudo são as paisagens, e o "ter estado lá". Se isto não é viajar, então o que é?

8 comentários:

  1. Berna, tu deves ter estado nas 7 quintas... arroz por todo o lado... :) tu até comes pouquinho!!

    um grande abraço e beijinhos para a Mary

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  2. espetacular gonçalini! marca mas é um voo e anda cá ter! :) ablazo!

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  3. Hello priminhos,

    Já sou vossa seguidora assidua, toca escrever mais para malta saber de voçês....

    bjoka grande e divirtam-se

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  4. há quanto tempo estás nisto, Mariana??

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  5. Boas Xabal e Xabala...e Pato ta claro!,

    Bem ta se mesmo a ver que a viagem de regresso deve ser do melhor...descidas brutais...ehehe!

    Fico contente por vocês estarem a curtir e terem emoções qb!...bem pra lem de qb!

    Entretanto so para info vossa, estamos em periodo eleitoral e o Mesquita anda a fazer campanha porta em porta de TT...por isso Votem nele!

    Isto está a faltar um post de Setembro...

    Bjitos e Abraço,

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  6. Oh Patos,

    se eu nao tivesse passado uns MARAVILHOSOS dias com voces até começava a acreditar q a volta ao mundo é mesmo cheia de "duras provas" que nem vos deixa escrever no blog :-)
    contem coisas...

    beijos ENORMES cheios de saudades!!

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  7. Já vai Susaninha.
    Isto não tem sido fácil, pois temos andado sempre de um lado para o outro...

    Beijinhos

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  8. Rodrigo:

    Fez ontem, dia 1 de Outubro, precisamente 4 meses que partimos para a Russia. Depois fomos sempre andando.

    Beijinhos

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