domingo, 23 de agosto de 2009

A Chegada ao Vietnam do Norte

Hanoi-Halong Bay-Sapa, 21st-27th of July, 2009

Introdução
Não sei se já repararam que há um pequeno (quase impreceptivel) desfazamento temporal entre a data de publicação de cada post do blog e a data escrita no inicio de cada post. Ora, este intervalo de tempo não é casual, mas sim propositado de modo a fazer crer ao leitor que estamos a curtir tanto, mas tanto, a viagem, que nem nos passa pela cabeça parar num recanto qualquer com internet para passar umas horas a escrever este empaleanço. A dura realidade (que tentamos a todo custo esconder) é que viajar é uma seca e preferimos muitooo mais passar mais tempo em frente ao computador, num cantinho de uma hostal, a descrever a viagem do que a viajar propriemente dito. Mas tal como nao se pode fazer uma omolete sem ovos, tambem nao se pode escrever sobre uma viagem que não se fez, o que gera aqui um paradoxo complexo. Resumindo, o nosso pedido de desculpas pelo atraso e prometemos tentar viajar menos e escrever mais (tentar!!, nao prometo mais que isso!). Obrigado.



Prólogo
Subitamente chegamos a Hanoi. Não foi assim tão subitamente, daí a existencia de um prologo. A chegada a Hanoi, feita por terra a partir da China (da cidade fronteiriça de Nanning), foi marcada pela utilização de um novo meio de transporte: o Sleeping Bus, ou do português: O Autocarro Cama. As espectativas eram mais altas. Afinal, o aspecto pouco rebuscado dos interiores totalmente de inox, asemelhavam-se terrivelmente ao interior de uma morgue, por mais tétrico que isto possa parecer. O tamanho de cada uma das camas individuais era suficiente para um chinês dos baixinhos, o que dificultou muito a vida para dois Portugueses espadaúdos de um metro e setenta e cinco. Depois do choque veio a aceitação, e com ela, um relaxamento (na medida do possivel) e uma tentativa frustrada de dormir até à fronteira de PingXiang que abriria as portas às 6 da manha do dia seguinte.


Hanoi

Chegar a Hanoi vindo de Saigão não choca ninguem. Chegar a Hanoi vindo das remotas e caóticas cidades Chinesas choca moderadamente. Mas chegar a Hanoi vindo de Hong Kong é como sair de uma opera de Verdi directamente para a gravação de um re-make do Big Show Sic. Os Chineses podem ser um povo sujo, desorganizado e um pouco rude, mas NADA que se compare ao povo Vietnamita. Hanoi é uma cidade extremamente caótica, suja, feia (ok, com a excepção do lago central e a sua parte circundante), com milhões de motociclos cada um com 4 ou mais passageiros (todos, obviamente sem capacete) que passam impunemente qualquer sinal vermelho, sinal de proibido, passeio, hall de entrada de hotel ou interior de cozinha de um restaurante. Típicamente eu fecharia os olhos e diria simplesmente num tom condescendente de semi-aprovação: "é cultural...é a cultura deles...", mas isto passa esse limite e irrita solenemente. O primeiro contacto com um taxista vietnamita logo à saida da nossa camioneta foi exemplar para ilustrar a cultura deles: Em primeiro lugar, era asseado e bem parecido, com uma aparencia cuidada e de elevado nivel de higiene... para alguem que passou os ultimos 5 anos como naufrago numa ilha; em 2º lugar, bem educado e civilizado...contam-se pelas patas de uma familia de centopeias as vezes que cuspiu da janela do taxi até à nossa hostal; em 3º lugar, um tipo honesto e bom anfitreão...contornou a larga extensao de lago (varios kms) à entrada do centro para voltar exatamente ao ponto de origem onde ficava a hostal; e em 4º lugar, deve ter sido um excelente aluno a matematica...o taximetro marcava 90.000 VND e ele disse prontamente: "It's 180.000 VND because you are 2 people". Depois desse Sr. veio a Sra. da hostal que nos informou que afinal o quarto que tinhamos marcado online por 8 USD afinal nao estava vago, mas que tinha um melhor por 12 USD e pôs isto de uma forma como se nos estivesse a fazer um favor monumental, dada a diferença de qualidade do quarto. Em seguida tentou impingir-nos 10 tours diferentes a preços exurbitantes. Ao inicio nem chateia muito, mas ao fim do nosso 4º ou 5º "No thanks" ela continua como se nada fosse na esperança de nos vencer pelo cansaço. E a verdade é que cansa mesmo. Uma vez mais, deve ser cultural. O "não", não deve existir na cultura Vietnamita.

Depois de um jantar razoavel com vista para o lago e de uma bebida num bar com vista para um movimentado cruzamento (onde pudemos apreciar a beleza da auto-organização do transito indiferente aos sinais, indicações, regras e leis) resolvemos partir cedo na manha seguinte para Halong Bay, patrimonio mundial da Unesco.

Halong Bay

Halong Bay é impressionante. No entanto deve ser bem mais impressionante para quem nunca esteve em Yangshuo ou Guiling, na China. São milhares de pinaculos de calcário que crescem do mar como se tivessem sido cuidadosamente plantados para criar uma ideia idilica de local encantado. Dentro de muitos desses pinaculos ha grutas cavadas pela erosão das águas cuja visita se torna obrigatoria. Ficamos a dormir num pequeno barco de recreio com um deck superior de madeira que transforma um pôr-do-sol num momento tão memoravel que toda a gente ali presente, inconscientemente, para de falar e contempla o horizonte durante longos minutos. Após o jantar, uma nova subida ao deck onde a temperatura exterior amena de 28ºC durante toda a noite, o céu estrelado a descoberto e o balancear das ondas proporcionam um serão que deve ser, provavelmente, o melhor tratamento anti-stress do mundo. Adicionalmente, e para não dizerem que isto é tudo pêra doce, no dia seguinte o despertar foi às 5:30am para ver o nascer do sol e, aínda antes do pequeno almoço, fazer kayak na água espelhada em torno destes gigantescos pedregulhos. Banho nas aguas quentes deste mar, sim, mas cuidado com as medusas. São mesmo muitas e medem 3 metros da cabeça ao final da cauda. As imagens de tudo o que está descrito acima falam por si.



Sapa

E por fim a ultima paragem programada da nossa passagem pelo Vietnam do Norte. Depois de uma viagem de regresso algo atribulada de autocarro (o numero de passageiros excedia largamente o numero de lugares disponiveis, como de costume) de Halong Bay para Hanoi, embacarmos de comboio (por sinal um dos melhores onde andamos até hoje) para Sapa, no norte, já muito perto da fronteira com a China. A viagem foi feita durante a noite e a chegada a uma terriola chamada Lao Cai foi por volta das 5 da manha. Daí segui-se um percurso de cerca de uma hora por paisagens de montanha, selva, bananeiras e longos planaltos de arrozais até à chegada a Sapa. Sapa vale pelo seu lado pitoresco. Aqui, ou antes, nas redondezas, podemos encontrar uma das maiores concentrações de tribos de minorias étnicas de todo o sudoeste asiático. Com as paisagens e com as tribos vieram naturalmente, os turistas. E com estes, veio a massificação, os restaurantes com "western menu", e o deturpar de uma cultura tribal que agora se transformou numa cultura de mercado e exploração comercial da pior espécie. Pena.



O curto tempo passado na parte norte do Vietnam só veio reforçar a minha teoria: há muitos lugares incrivelmente belos espalhados pelo mundo. Existe tambem aqui no Vietnam uma beleza natural única. Mas o que realmente faz a diferença entre a satisfação plena da vivência e uma experiência a não repetir, são as pessoas. E as pessoas no Vietnam parecem náo compreender que só têm uma única hipotese de criar uma boa primeira impressão.

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