sábado, 20 de junho de 2009

O Comboio 063 para Moscow

Alguns dizem que a primeira vez é a melhor. Outros, a pior. Outros aínda, nunca tiveram uma primeira vez sobre a qual possam opinar. Certo é que a poucas horas de chegarmos a vias de facto estavamos ambos um pouco nervosos mas entusiasmadissimos. Toda a gente já andou de comboio, mas andar de comboio na Russia não é todos os dias (excepto talvez para os Russos). Todo aquele nervosismo inicial devia-se a varios factores: ia-mos partir tarde, às 23:15, saímos já tardiamente do hostel onde estavamos, ninguém na Russia (literalmente!) fala inglês caso seja necessária alguma informação importante (qualquer coisa do género: em que comboio é que tenho que entrar?!), e por último, os Russos fazem das formalidades de uma viagem de comboio algo semelhante à entrada numa conferência do G8. Não bastando ter um bilhete que vem em triplicado, timbrado, com holograma tridimensional à semelhança de um cartão de crédito, com todos os dados contidos no passaporte e 2 tipos diferentes de codigos de barra, os Russos pedem, como não poderia deixar de ser, à entrada do comboio, o passaporte original devidamente visado, contra o qual validam todos os dados e nos olham fixamente na cara durante largos segundos. Andar de comboio não devia ser intimidante, mas na Russia, é! Ou pelo menos, foi. A primeira vez. Como diria o outro: "Depois da primeira vez, é sempre a abrir, Maria Inês".
Depois de passado pelo controlo da Provodnitsa (a Sra. que muito diligentemente se encarrega de manter a ordem e arrumação dentro de cada carruagem, e figura autoritaria máxima da viagem) lá fomos entrando até encontrarmos os nossos lugares/camas. Aturdidos pela confusão gerada no momento da entrada no comboio e à medida que nos instalavamos, olhavamos atentamente com curiosidade e estupefacção para todo aquele cenario. A nossa reação contrastava de forma evidente com as caras enfadonhas e amarguradas dos restantes passageiros para quem aquela era apenas mais uma mundana e corriqueira viagem obrigatória por força da localização do trabalho ou da familia. Toda a Russia (vá, St. Petersburgo pelo menos) é um pais triste, carregado pelo peso do comunismo, e isso vê-se em tudo à nossa volta. Reflecte-se nas pessoas, nas construções, nos monumentos, e também naquele comboio. Ficamos com dois lugares de cima. Não foi o que queriamos ou que tinhamos pedido; foi o que nos calhou. Por baixo de nós ficaram dois simpaticos russos que não abriram a boca durante toda a viagem. A nossa carruagem tinha uma lotação de 53 pessoas e estava repleta. Era do tipo Platzkart, aberta por inteiro com todas as camas à vista, sem uma unica porta ou divisão; sem privacidade nenhuma; à russo. Cada cabeça começava literalmente onde os pés anteriores acabavam. Esteve de dia até às 2 da manhã. Depois disso, também não ficou de noite. Devido à elevada latitude da região e proximidade do solstício de verão, nunca fica verdadeiramente de noite, mas sim um contínuo lusco-fusco que se prolonga até amanhecer. Acordamos pouco antes da entrada do comboio na estação Moskovskaya, em Moscovo, às 6:48am.

A primeira vez num comboio russo estava cumprida. O Pato, como é obvio, adorou.

3 comentários:

  1. nao sei se por tesice ou desconhecimento foste na carruagem do povo. há cabines privadas. comprar o bilhete é de doidos. ao contrario da tua viagem, a minha foi muito animada, as senhoras do bar estavam muito entusiasmadas com os ocidentais e improvisaram um baile muito animado, vodka, folk russo, petiscos... nunca cheguei a perceber se elas eram moças da vida ou estavam apenas entusiasmadas. ficaste imenso tempo em peter! em moscow aconselho o HM hostel. e desaconselho o home from home hostel. curtam

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  2. tesice mesmo.já saí de Moscovo tambem, mas nao tive tempo de por isto em dia. vou ver se escrevo mais qq coisa. curte a checa enquanto dura

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